Mães falam DE POLÍTICA?
Há alguns dias atrás fui barrada por algumas mães em um grupo no WhatsApp por expressar minha opinião política a respeito da situação do nosso país.
A frase que recebi foi: “aqui não é lugar para se falar de política”.
Constrangida, rapidamente troquei de assunto para não gerar um problema com as mães, que logo começaram a discutir sobre um outro assunto, no caso: “sobre a rotina da vida agora com a pandemia e os maridos em casa”.
Mas, parei por um instante e fiquei observando as falas das mães sobre o novo assunto, de certa forma, mais vago.
Aquilo começou a me perturbar até que pensei… SE AQUI NÃO É O LUGAR, ENTÃO, AONDE É O LUGAR PARA SE FALAR DE POLÍTICA?
Mães e o seu lugar na Política
Na Grécia Antiga havia um lugar específico para discussões políticas: o Areópago. Lá ficava o Bulé, um grupo específico de homens (livres) que discutiam e deliberavam sobre os assuntos da pólis (cidade). Algo semelhante ao que hoje conhecemos como parlamento.
Lembra quando o apóstolo Paulo está em Atenas e discursa sobre o “deus desconhecido?”. Então, ele faz isso no Areópago, um lugar importante para a cultura grega, pois de acordo com a mitologia, o deus Ares havia sido julgado naquele lugar, por isso, chamava-se Areópago.
Nossa democracia atual é representativa, ou seja, elegemos pessoas para nos representar no parlamento, o lugar “oficial” para se falar de política.
Mas, nós, os cidadãos comuns, não eleitos por ninguém, não temos um lugar específico para falar de política.
E, talvez, por não termos um lugar para falar de política é que infelizmente nós mães (e me incluo nessa lista) não sabemos votar.
Por que não sei você, mas, a minha sensação é que entra governo e sai governo e pouca coisa muda pra melhor em nosso país.
Mas, você deve estar se perguntando, este post não era para falar sobre maternidade?
Sim, e continua sendo. Porque lugar de falar de política deveria ser em todo lugar. Deveria ser na escola, deveria ser no grupo do condomínio, deveria ser no grupo da família, deveria ser no grupo da igreja.
Nós precisamos aprender a discutir para formar opinião, para aprender a votar. Se discutirmos sempre com aqueles que pensam como nós, viveremos dentro de uma bolha e acho que isso não é saudável!
Por isso mães, eu queria te convidar a sair da inércia e assumir mais uma responsabilidade. Você precisa se envolver com os problemas deste mundo para ensinar o seu filho sobre política.
Muitos dos meus devocionais são de conforto e refrigério, mas este não será. Desculpa, mas hoje eu preciso te falar sobre isso.
O lugar das mães na sociedade
Eu não quero ser uma mãe alienada da sociedade. Eu quero ser uma mãe com opinião e que ajuda minha filha a formar sua própria opinião. Porque se isso não acontecer não haverá mudança.
Claro que é mais fácil falar sobre outros assuntos que envolvem o nosso cotidiano, e acho que também é plausível falar sobre.
A questão é:
Será que estamos dispostas a tirar um minutinho do nosso dia para discutirmos sobre um assunto TÃO CHATO e que é barrado em todo lugar?
Talvez naquele dia no grupo das mães, se cada uma tivesse apresentando sua opinião sobre o assunto polêmico de política teríamos trocado informações, teríamos intrigado uma a outra, teríamos compartilhado conhecimento, teríamos saído da discussão um pouquinho diferente de como entramos, e quem sabe teríamos ideias para ajudar umas as outras.
Até por que nós mães somos muito fortes quando estamos unidas. Eu já vi um grupo de mães se movimentando por causas lindas e justas. E tem coisa mais gratificante para uma mãe ver seu filho sendo abençoado?
Parece utópico né, por que quem sou eu? Nem sou candidata, não é mesmo?
Mas sou cidadã, e posso fazer diferença sim. Posso fazer aqui neste post, com você e com outras. Posso fazer no meu bairro, na minha igreja, na minha comunidade. Afinal, a palavra “político” quer dizer: “aquele que age sobre a pólis (cidade), por isso, qualquer cidadão é, sim, um político.
Outro dia escrevi uma frase no Facebook que gerou uma grande polêmica, e acho que talvez, o vilão ali tenha sido o mesmo que nos impede de falar sobre política: a alienação sobre o que está acontecendo ao nosso redor.
Mãe, eu sei que você quer cuidar, proteger, amar seu filho incondicionalmente neste mundo tão cruel, perigoso e cheio de problemas. Eu sei que você tem medos, aflições e só quer que tudo fique bem, eu também quero tudo isso.
Mas, é preciso que se levante um movimento de mães e mulheres fortes nesta sociedade. Precisamos parar de ir com a multidão.
Dados mostram que nossa representatividade no governo ainda é muito pequena. Na última eleição apenas 15%[1] dos políticos eleitos foram mulheres.
Mamãe, eu não quero que você corra se filiar a um partido, o que eu quero dizer é que, precisamos ter mais opinião, precisamos discutir mais, ler mais, se envolver mais com o que acontece no nosso mundo, no nosso país, na nossa cidade, no nosso bairro.
Jesus era assim, ele era polêmico, ele se envolvia com a comunidade com os bons e com os maus, ele não passou despercebido e, digo mais, ele intrigava as pessoas com quem se comunicava.
Então comece hoje. Ao assistir um jornal, ao ler um post no Facebook, critique, duvide, reflita, não pense que ele é uma verdade absoluta. E acima de tudo, se envolva, tenha interesse.
Não barre uma discussão só porque você não quer criar um “mal-estar” com as mães do seu bairro ou da escola do seu filho. Até porque, eu acho que o próprio amor de Jesus até hoje cria um “mal-estar” na humanidade.
Referências
[1] https://www.camara.leg.br/noticias/554554-baixa-representatividade-de-brasileiras-na-politica-se-reflete-na-camara/
[…] eu já escrevi aqui sobre a importância de não nos alienarmos como mães e sobre a importância de fazermos nossa parte, mesmo que pequena, em todo tempo. […]