é por medo ou por amor?
“No amor não há medo antes o verdadeiro amor lança fora todo o medo”. 1ª João 4.18
Toda vez que o Império Romano conquistava um novo território, um anggelos era enviado para a capital a fim de anunciar o evangelho, isto é, a boa notícia de que uma nova ekklesia havia sido fundada.
A ekklesia era a assembleia de cidadãos romanos que deliberava sobre os assuntos políticos da pólis, ou seja, da cidade. Mas, para além disso, a ekklesia, era também um lugar de reconhecimento da soberania e divindade de Cezare Augustus.
Cézar e Augusto são dois títulos, que Octávio, após dominar os outros imperadores no segundo triunvirato, adotou para si. A tradução de césar é Imperador e augustos quer dizer Divino.
Octávio conhecia a história e sabia que ao voltar para Roma, depois de ter vencido Lépido e Marco Antônio, seria destituído do trono pelo Senado, como aconteceu com seu tio Júlio.
Então, para evitar um golpe de estado, Octávio se autointitulou Augusto. Dessa forma, faz com que todas as pessoas passem a reconhecê-lo como um deus e, sendo assim, ninguém estaria acima dele.
Sendo Octávio, o César e o Augusto, todos os conquistados pelo império romano eram obrigados a reconhecê-lo como senhor é também como deus. Aquele que não o fizesse, era condenado à morte. E a ekklesia, por sua vez, era o lugar onde tal reconhecimento era legitimado.
O que isso quer dizer? Explico.
César pautava sua divindade, soberania e autoridade no “medo”. As pessoas reconheciam sua liderança, apenas porque tinham medo das consequências.
E o que a história de Octávio nos ensina?
Ensina que o medo é a melhor ferramenta de domínio! Ensina que os seres humanos têm uma tendência de provocar medo uns aos outros a medida que assumem lugares de poder. E, que ao se sentir ameaçado o ser humano revida aterrorizando-nos outros.
Um reino de amor
Um dia, ao ser questionado sobre a cobrança de impostos, Jesus respondeu: “dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Por que Jesus dá essa resposta? Será que Jesus também tinha medo de ser morto?
Não, né. Afinal, alguns dias depois ele mesmo se entregaria para ser crucificado. O que Jesus estava deixando claro era a diferença entre sua divindade e a de César.
Jesus pauta sua autoridade no amor, não no medo.
O medo é o que aniquila o amor, assim como, mas o verdadeiro amor lança fora todo o medo. Na busca por compreender como “amar uns aos outros” podemos começar compreendendo o que não é amor.
Por isso, refleti na frase o verdadeiro amor lança fora todo o medo e resolvi trazer algumas notas a respeito do que o medo faz quando é usado para manutenção do poder. Vamos lá?
1. O medo pressupõe controle
O que César queria era ter o controle sobre as pessoas. Então, fazia do medo o sua fonte de autoridade. Já reparou como tem muitas pessoas que lideram a base do medo?
Já parou pra perceber como a religião está pautada em medo? Como o cristianismo forja seus discursos no medo? Se você fizer isso ou aquilo vai pro inferno. Não faça isso porque senão você perderá sua salvação. O medo só existe sob a forma de controle. E a religião se apropriou disso.
O medo faz com que as pessoas esqueçam da graça e foquem, apenas, no pecado. Vivem suas vidas com medo da acusação por causa de seus pecados, ora ocultos, ora revelados.
Os líderes religiosos, pastores e afins, mesmo que sem perceber, ensinam seus liderados a controlarem uns aos outros, em vez de amarem uns aos outros. E, fazem isso, por meio de discursos de medo.
Aí sabe quem entra em cena? A fofoca. Sim, a fofoca é uma forma de controle. Ah, fulano, você viu que a fulana fez isso ou aquilo? Alá, tá sofrendo consequência de pecado, bem feito, não obedeceu.
É triste, mas é real. As igrejas estão lotadas de pessoas que estão lá por medo do que pode acontecer se não forem devotas. Estão lá por medo de não serem aceitas. Estão lá porque estão com medo de passar a eternidade no inferno. A religiosidade se constrói a base do medo.
2. O medo aprisiona e isola
Quando uma comunidade religiosa está pautada no medo ela aprisiona as pessoas. Em seu discurso só há cobranças: “você tem que orar”, “você tem que jejuar”, “você tem que isso, tem que aquilo”.
Aí sabe o que acontece? Começa a barganha. As pessoas fazem isso ou aquilo porque querem barganhar com Deus. Afinal, já que eu tenho que fazer, então, quero ter algo em troca, algo que compense o que estou tendo que fazer.
A bem da verdade é que você não tem que fazer nada. Não faça nada. Apenas, ame e deixe-se ser amado, que às vezes é até mais difícil. Temos medo de ter contato com o outro, ter contato com o diferente.
O que nos falta na igreja é Alteridade.
Alteridade é mais que uma palavra difícil, é um conceito. Alteridade é se expor, ter empatia e reconhecer a condição do outro. É tentar compreender o racismo sendo branco. É compreender o homossexualismo sendo hétero.
Alteridade existe para flexibilizar as barreiras criadas pela hegemonia. Mas, que papo é esse? Sim, se você é branco, hétero e cristão você faz parte de uma hegemonia. Daqueles que têm mais acesso aos recursos disponíveis a sociedade.
É, por isso, que defendo uma Teologia Inclusivista. Porque o amor não isola os diferentes. Ele agrega. O amor nos faz viver em comunhão com aquilo que não concordamos. E, isso não é fácil.
Quando vamos de encontro com a dor, as condições e a realidade daqueles que pensam de forma diferente da nossa, nós somos transformados. A alteridade muda nossa forma de ver e vivenciar o mundo a nossa volta.
Precisamos perder o medo de nos conectar aos que são diferentes de nós.
Quando nos expomos e nos abrimos para compreender, entender e respeitar as escolhas alheias somos libertados dos nossos preconceitos. E, quando o preconceito cai o amor floresce.
Amar uns aos outros requer uma disposição em ter contato, encostar na alma, tocar o coração daqueles que são diferentes de nós. Requer uma mudança de discurso. Os evangélicos precisam parar de ter sua própria linguagem, seu idioma próprio e se abrir para uma comunicação com a sociedade.
3. O medo trava e intimida
Mas, no âmbito mais pessoal, o que o medo mais faz é intimidar. O medo faz com que a gente não se mova. O principal sintoma da síndrome do pânico, do burnout e da depressão é a paralisia emocional.
O medo faz com que você não saia do lugar com seus projetos, com suas decisões, com sua vida, seja ela profissional, conjugal ou espiritual. Quando estamos cercados pelo medo não fazemos nada. O medo nos trava porque não deixamos o amor reinar
O verdadeiro amor lança fora todo o medo
Para o amor reinar em nosso coração precisamos nos expor à este amor. Precisamos aprender a ser amados e a amar também. É, por isso, que Jesus resume todos os mandamentos neste novo mandamento: “Assim como eu os amei, amem também uns aos outros” João 13.34
Parece simples, mas isso requer uma exposição de nossa parte. Com isso quero dizer que para o amor acabar com o nosso medo precisamos nos expor ao amor de Deus. Deixar que Ele nos envolva em seu amor e nos devolva o controle de nossa vida.
E, para isso é preciso que nossas convicções, nossos valores, aquilo que achamos ser certo ou errado seja tudo colocado diante de Deus. Nossos conceitos pré formulados precisam ser deixados de lado.
Uma espiritualidade cristocêntrico é um exercício diário de desconstrução e reconstrução. Ainda que os sistemas de crenças nos ajudem a compreender um pouco da dinâmica divina, é a nossa disposição em viver uma espiritualidade genuína que vai nos tornar pessoas melhores.
Então, questionamos o que é que Deus quer? Como é que podemos ser moldados pelo seu amor? Como o medo pode ser vencido pelo amor? O que é que vamos fazer para, realmente, amarmos uns aos outros?
Meu conselho é que você deixe de lado suas certezas e se exponha as certezas que as experiências com Deus podem te dar. Ele é quem te convence do pecado, do juízo. Silencia na presença dEle e deixa só a voz dele te guiar. É isso. Apenas se exponha ao amor incondicional do nosso Deus.
É hora de agir
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