Daniel Kahnenam revela em Pense Rápido e Devagar que nosso cérebro pode nos enganar, simplesmente por agir de forma intuitiva.
Psicólogo e matemático vencedor do Nobel de Economia em 2002, Daniel Kahnenam ensina que nossas escolhas podem ser extremamente afetadas pelas ações naturais da mente.
Se você quer desvendar os mistérios de sua mente, descobrir porque faz certas escolhas, ou se tornar um bom tomador de decisão. Então, você não pode deixar de ler o resumo de Pense Rápido e Devagar.
Neste resumo você vai aprender como sua mente trabalha no momento das escolhas. Dessa forma, vai descobrir como ser mais assertivo e preciso no momento da tomada de decisão.
Sistema 1 e Sistema 2
O comportamento humano é determinado por dois sistemas mentais: um automático e outro reflexivo.
É como uma trama de filme onde os personagens vivem tensões, dramas e conflitos:
- Um personagem é impulsivo, automático e intuitivo, seu nome: sistema 1.
- O outro é pensativo, meticuloso e calculista, ele é chamado de sistema 2.
É a interação entre os dois sistemas que determina a forma como o ser humano pensa, julga e decide agir.
O sistema 1 é a parte do cérebro que funciona de forma intuitiva, e na maioria das vezes sem o controle consciente.
Se você ouvisse um ruído muito alto agora, por exemplo, certamente sua atenção mudaria imediatamente para o barulho. Isso é o Sistema 1.
Ele é um legado do passado evolutivo. A capacidade de realizar julgamentos e ações de forma rápida trouxe vantagens inerentes à sobrevivência humana.
O sistema 2 produz as atividades conscientes da mente, como o autocontrole, a escolha e o foco.
Ao procurar alguém em uma multidão, sua mente se concentra para lembrar das características da pessoa, eliminando as distrações à sua volta. Isso é o sistema 2.
Além de ativar a memória e manter o foco, o sistema 2 também é responsável pela autorreflexão.
A relação entre os dois sistemas determina o comportamento humano. Dependendo do sistema que está no comando, a sua tomada de decisão é diretamente afetada.
Para começar a perceber os dois sistemas em ação vamos fazer o “teste da caneta”:
Um lápis e uma borracha custam juntos R$1,10. O lápis custa R$1,00 a mais do que a borracha.
Quanto custa a borracha? (Responda rapidamente antes de continuar lendo).
A resposta que provavelmente veio à sua mente foi R$0,10. Isso foi um resultado intuitivo e automático do sistema 1.
Mas, a solução está errada! Calcule agora e veja que a resposta correta é R$0,05.
O que aconteceu foi que o sistema 1 assumiu o controle e escolheu automaticamente confiar na intuição.
Quando confrontado com uma situação complexa, o Sistema 1 coloca o sistema 2 para fora do problema. Ele simplifica a situação, pressupondo que pode lidar sozinho.
O teste da caneta revela algo que Daniel Kahneman chama de Preguiça Mental. O autor diz que há uma tendência natural do cérebro em usar a quantidade mínima possível de energia.
O sistema 2 exige muito esforço, logo, o cérebro deixa-o de lado porque acredita que pode usar apenas o sistema 1.
Daniel Kahneman explica: “a vida do Sistema 2 é normalmente conduzida ao ritmo de uma caminhada confortável, às vezes interrompida por episódios de corrida leve e em raras ocasiões um tiro frenético”.
A experiência do “gorila invisível” é o melhor exemplo para demonstrar um tiro mental:
Christopher Chabris e Daniel Simons montaram um curta-metragem de duas equipes trocando passes de basquete, uma das equipes vestindo branco e a outra preto. Os espectadores foram instruídos a contar o número de passes feitos pelo time branco, ignorando os jogadores de preto.
No meio do vídeo, alguém usando um traje de gorila aparece, atravessa a quadra, bate no peito e vai embora. Milhares de pessoas assistiram ao vídeo e mais da metade não conseguiu ver o gorila.
O sistema 2 empreende toda a energia do cérebro na tarefa a qual está designado a fazer. Contar os passes e ignorar uma das equipes causa uma cegueira parcial. Ou seja, qualquer um veria o gorila se não tivesse recebido tais tarefas.
O Efeito Priming
Uma pesquisa na década de 1980 provou que se alguém ler ou escutar a palavra COMIDA, ficará temporariamente mais propenso a completar S__P__ com SOPA do que com SAPO.
Por conseguinte, estaria mais inclinado a preencher S__P__ com SAPO se tivesse escutado ou lido a palavra NATUREZA.
Isso é chamado de efeito priming. A mente humana é associativa. Decisões são tomadas de acordo com os conceitos relacionados.
Do mesmo modo que a mente é instigada por ouvir certas palavras e conceitos, o corpo também reage por associação.
Para demonstrar o efeito priming no corpo humano, uma pesquisa da Universidade de Nova York dividiu em dois grupos alguns estudantes com idade entre 18 e 22 anos.
Para um dos grupos foi pedido que elaborassem frases com palavras associadas à idosos. Para o outro grupo, os pesquisadores solicitaram frases aleatórias.
Ao final da tarefa, todos os alunos foram encaminhados para outra sala pelo mesmo lugar. Observar a caminhada no corredor era a finalidade da pesquisa.
Os cientistas perceberam que o grupo que elaborou frases com as palavras associadas à idosos andou no corredor mais devagar do que o outro grupo.
O priming de ações e pensamentos é completamente inconsciente, as pessoas fazem sem perceber.
Isso mostra que ninguém está no controle consciente total de suas ações, decisões e escolhas.
Na verdade, a mente está condicionada aos fatores sociais e culturais em que as pessoas estão inseridas.
O Efeito Auréola
Imagine que você acabou de fazer amizade com Gabriel. Em pouco tempo de conversa você logo percebe um alto nível de empatia nele.
Mais tarde, alguém pergunta se você conhece pessoas dispostas a contribuir para caridade, intuitivamente, você lembra de Gabriel, mesmo que a empatia seja a única coisa que você saiba sobre ele.
Na verdade, você gostou de um aspecto do caráter de Gabriel. De algum modo, por conta da empatia que ele demonstrou, você acredita que ele também seja caridoso.
Muitas vezes a mente aprova ou reprova uma pessoa, mesmo sabendo muito pouco sobre ela.
Quando sua mente decide que Gabriel é caridoso você coloca uma auréola nele. Porém, essa tendência da mente em simplificar as coisas sem informações suficientes pode levar a erros de julgamento.
Daniel Kahneman explica: “a tendência a gostar (ou desgostar) de tudo que diz respeito a uma pessoa, incluindo coisas que você não observou, é conhecida como efeito auréola”.
O efeito auréola acontece porque a mente faz escolhas rápidas, mesmo quando não tem informações suficientes para tomar uma decisão racional.
Viés de confirmação
Daniel Kahneman afirma que há também uma predisposição da mente para a confirmação, que é a tendência das pessoas em concordarem com sugestões, exageros e crenças anteriormente detidas.
Estudos mostram que se alguém perguntar: “João é amigável?” Todos ficam propensos a lembrar das características positivas de João.
Por outro lado, caso perguntem: “João é desagradável?”, a memória fica inclinada a buscar pelos aspectos negativos de João.
Isso é chamado de viés de confirmação.
Daniel Kahneman explica que “as perguntas são dirigidas ao Sistema 2, que dirige a atenção e faz uma busca na memória para encontrar as respostas. O Sistema 1 trabalha de modo diferente. Ele monitora continuamente o que acontece dentro e fora da mente, e gera avaliações dos vários aspectos da situação”.
Para Kahneman “essas avaliações básicas desempenham um papel importante no julgamento intuitivo”.
Você não conta as sílabas de cada palavra que lê, mas poderia fazer se quisesse. Esse controle sobre cálculos intencionais é necessário para sua leitura da situação.
O ser humano calcula bem mais do que quer ou precisa. Daniel Kahneman chama esse excesso de cálculo de Bacamarte Mental.
Ninguém consegue mirar num único alvo com um bacamarte porque ele atira projéteis que se dispersam.
Da mesma forma, o Sistema 1 não pode fazer mais do que o Sistema 2 encarrega-o de fazer.
Os efeitos priming e auréola, e o viés de confirmação ocorrem porque sua mente está ansiosa para tomar decisões, agindo como um bacamarte mental.
Isso é o que leva à erros de julgamento, porque nem sempre existem dados suficientes para fazer a escolha mais assertiva.
Os atalhos da mente para as decisões rápidas
A mente depende de sugestões e simplificações para preencher lacunas de informações e julgar situações complexas rapidamente.
Para isso, os Sistemas 1 e 2 criam atalhos que possibilitam a compreensão rápida. Daniel Kahneman chama esses atalhos de heurísticas.
E, o que são heurísticas?
É o processo pedagógico que faz nosso cérebro tomar decisões de forma mais rápida e muitas vezes automática.
Esses processos são muito úteis, mas o abuso da mente em usá-los desenvolve os vieses de comportamento.
Para compreender melhor a Teoria Heurística, Daniel Kahneman apresenta quatro tópicos:
- Representatividade;
- Disponibilidade;
- Ancoragem e;
- Regressão à média.
Heurística de Representatividade ou Substituição
A Heurística de Representatividade é empregada quando se pede para julgar a probabilidade de um objeto ou evento “A” pertencer à classe ou processo “B”.
Essa heurística leva você a substituir perguntas complexas por questionamentos simples.
Por exemplo, alguém te pergunta: “até que ponto você contribuiria para salvar espécies em risco de extinção?”.
Para responder isso, você deveria pensar nos problemas que a extinção causa na natureza, ou o como isso transformará sua comoção em dinheiro.
Mas, a heurística de representatividade substitui-se por um questionamento simples: “me emociono quando penso em golfinhos morrendo?”.
Para essa pergunta o bacamarte mental pode dar uma resposta simples. Então, a maioria das pessoas deixa de pensar na complexidade da natureza e negligencia a importância da existência dos golfinhos.
Heurística de Disponibilidade
A Heurística de disponibilidade de ocorrências ou situações é empregada quando se pede para estimar a frequência de uma classe ou a plausibilidade de um acontecimento particular.
Em outras palavras, é quando superestimamos a probabilidade de algo acontecer porque ouve frequentemente ou tem facilidade de lembrar.
Por exemplo, estudos estatísticos apontam que derrames causam mais mortes do que acidentes de carro.
Mas, na pesquisa de Daniel Kahneman, 80% das pessoas acredita que mais pessoas morrem no trânsito, exatamente, porque acidentes de carro são mais fomentados na mídia do que os derrames.
Dessa forma, os norte-americanos desconsideram os perigos de sofrer um AVC no futuro e se expõem diariamente a uma alimentação inadequada.
Heurística da Ancoragem
Numa experiência, Daniel Kahneman adulterou uma roda da fortuna para que parasse sempre em 10 ou 65.
Em seguida, selecionou alguns alunos que depois de girar a roda e verem o resultado eram questionados: “Quantas nações africanas fazem parte da ONU?”. 70% dos alunos responderam 10 ou 65.
O ajuste heurístico a partir de uma âncora é empregado na previsão numérica quando um valor relevante encontra-se disponível.
Ou seja, se você não tem ideia de quanto vale vai sempre decidir em função do valor que lhe foi exposto.
Outro exemplo de ancoragem é quando as pessoas tendem a dirigir mais rápido ao sair de uma rodovia e entrar nas ruas da cidade.
Isso se chama ajuste insuficiente.
Todos sabem qual é a velocidade máxima permitida, mas intuitivamente acabam dirigindo acima do previsto pela lei.
Regressão à Média
Quando falava aos instrutores de voo sobre a teoria do Reforço Positivo, Daniel Kahneman foi surpreendido com a argumentação de um dos instrutores.
O oficial disse que toda vez que elogiava a manobra de um cadete, na próxima série o aluno se saía mal, por outro lado, toda vez que gritava com o aspirante por fazer uma manobra ruim, a próxima saía melhor.
E, por isso, para o oficial, a teoria do Reforço Positivo não seria adequada para a força aérea israelense.
O instrutor de voo se referia ao que foi batizado por Francis Galton de Regressão à Média.
Segundo Daniel Kahneman o “instrutor vinculara uma interpretação causal às flutuações inevitáveis de um processo aleatório”. A tendência estatística é que as repetições sempre voltam à média.
Na verdade é uma questão de soma entre sorte e talento. Kahneman explica que “um desempenho ruim era tipicamente seguido de melhoria e um desempenho bom piora, sem qualquer ajuda de elogios ou punição”.
Ou seja, se o instrutor não falar nada para os cadetes, o resultado será sempre o mesmo: a média.
Confiança Excessiva
Em 10 de julho de 2001, George Tenet, diretor da CIA, recebeu informações sobre um iminente ataque da Al Qaeda contra os EUA.
Cumprindo o protocolo, George Tenet enviou um comunicado para a conselheira de segurança nacional.
Quando os fatos vieram à tona, Ben Bradlee, do Washington Post, declarou: “a mim me parece elementar que se você está de posse da notícia que vai determinar os rumos da história, pode muito bem ir direto ao presidente”.
A questão é que no dia 10 de julho de 2001 não havia como alguém saber ou ter sabido que esse furo da inteligência poderia mudar os rumos da história, ao ponto de desrespeitar o protocolo e ir direto ao presidente.
Certamente você já escutou alguém dizer: “eu já sabia que isso ia acontecer”.
Para Daniel Kahneman, “essa frase contém uma palavra altamente censurável, que deveria ser removida do vocabulário ao se discutir grandes eventos”. Kahneman se refere a palavra: “sabia”.
Saber deve ser aplicado, apenas, quando o que era sabido é verdadeiro e pode ser provado como verdadeiro. Você só pode saber de algo, se isso é tão verdadeiro quanto sabível.
O problema no uso desse “saber intuitivo” é que a linguagem faz o mundo parecer mais conhecível do que realmente é. Isso perpetua uma ilusão.
São as falácias narrativas que a mente cria para tentar compreender situações futuras ou presentes, tendo por base as informações do passado.
Daniel Kahneman explica: “o cerne da ilusão é que acreditamos compreender o passado, o que implica que o futuro também deva ser conhecível, mas na verdade compreendemos o passado menos do que acreditamos compreender”.
Para explicar essa questão Kahneman apresenta dois vieses: o retrospectivo e o de resultado.
Viés retrospectivo
Numa pesquisa sobre a pena de morte, cientistas entrevistaram pessoas que não tinham opiniões formadas sobre o tema, mas tendiam a favor ou contra.
Após a entrevista os participantes foram expostos a um filme com uma mensagem persuasiva contrária ao posicionamento que pendiam.
Ao término do filme, os pesquisadores entrevistaram os participantes outra vez. Quando solicitados a reconsiderar suas antigas posições sobre o tema, os entrevistados escolhem de acordo com a mensagem persuasiva e não conseguiam acreditar que um dia haviam pensado diferente.
O ponto crucial do experimento é o filme.
Ao ser convencido, o sujeito tem a sensação de que sempre pensou de acordo com a opinião à qual foi exposto.
Agora já não consegue mais voltar à crença antiga porque a mensagem persuasiva o fez acreditar que sempre soube.
Daniel Kahneman explica que “o viés retrospectivo apresenta efeitos perniciosos nas estimativas dos tomadores de decisão. Leva os observadores a avaliar a qualidade de uma decisão sem considerar se o processo foi sólido, mas se o desfecho foi bom ou ruim”.
Viés de resultado
Há uma tendência natural da mente em culpar os tomadores de decisão por boas decisões que funcionam mal e dar pouco crédito por medidas de sucesso que parecem óbvias apenas após o ocorrido.
Daniel Kahneman chama isso de viés de resultado.
Clientes tendem a culpar seus fornecedores por não terem enxergado os sinais claros da desgraça, mesmo que tudo estivesse invisível.
Daniel Kahneman esclarece: “atitudes que parecem prudentes quando vistas previamente podem parecer de uma negligência irresponsável quando vistas retrospectivamente”.
A questão aqui é que a presciência se dá a partir do resultado. Quanto maior for a consequência do evento, maior será o viés de resultado.
Como no caso do 11 de Setembro, todos estão predispostos a acreditar que as autoridades falharam em não se antecipar ao atentado e foram negligentes.
Porém, se o resultado fosse positivo e o atentado tivesse sido evitado, o evento já teria sido esquecido hoje.
Escolhas
Toda escolha significativa vem acompanhada de alguma incerteza. Quando você compra um apartamento não sabe por quanto poderá vendê-lo depois, tampouco imagina que o filho do vizinho vai aprender a tocar trompete e violino.
Se você tivesse que decidir entre: (a) resolver no cara ou coroa ganhar R$100 ou nada. Ou, (b) ganhar R$46,00 com certeza.
Provavelmente você escolheria a alternativa (b), ganhar com certeza.
Isso é chamado de Aversão à Perda, conceito definido na Teoria da Utilidade de Daniel Bernoulli.
Mas, Daniel Kahneman e Amos Tversky não concordavam com a teoria de Bernoulli e queriam compreender como as pessoas fazem escolhas arriscadas.
Então, desenvolveram a Teoria da Perspectiva.
Pense na seguinte situação: a riqueza de Anthony é de um milhão. A de Betty é de 4 milhões. Ambos recebem uma opção de risco e uma opção segura.
- o risco: chances iguais de terminar com 1 milhão ou 4 milhões;
- escolha segura: terminar com 2 milhões com certeza.
Parece óbvio que ambos devem escolher a coisa segura. Mas, a perspectiva de assumir o risco muda de um personagem para o outro.
Daniel Kahneman explica a escolha segura: “para Anthony, é a diferença entre dobrar sua riqueza e não ganhar nada; para Betty, é a diferença entre perder metade de sua riqueza e perder três quartos dela”.
Ou seja, Betty está mais propensa ao risco, pois suas opções são ruins. Ela escolhe apostar porque tem a chance de não perder nada.
Para compreender melhor a teoria da Perspectiva considere esses dois problemas:
(a) você prefere novecentos dólares com certeza? Ou 90% de chance de conseguir mil dólares?
(b) Prefere perder U$900,00 com certeza, ou 90% de chance de perder U$1.000?
Se você é como a maioria das pessoas, então, foi avesso ao risco no problema (a). Mas, em relação ao problema (b) ficou propensa ao risco.
Daniel Kahneman esclarece: “a perda certa é muito aversiva, e isso impulsiona você a correr o risco”.
Ou seja, a tomada de decisão é uma questão de perspectiva. A perspectiva, no entanto, é sempre acompanhada de uma referência.
Pense nas seguintes situações:
Problema 1: Além do que já tem, você recebeu mil dólares. Escolha uma dessas opções: (a) 50% de chance de ganhar mil dólares; (b) conseguir quinhentos dólares com certeza.
Problema 2: Além do que já tem, você recebeu 2 mil dólares. Agora escolha: (a) 50% de chance de perder mil dólares; (b) perder quinhentos dólares com certeza.
Sem dúvida que na primeira escolha você optou pela coisa segura. E, no segundo problema preferiu a aposta.
Mas, quanto de atenção você prestou no prêmio de mil ou de 2 mil dólares que recebeu antes de fazer sua escolha? Provavelmente, mal notou.
Daniel Kahneman comenta “na verdade, não há o menor motivo para que o fizesse, pois o prêmio está incluso no ponto de referência, e pontos de referência são de um modo geral ignorados”.
A Teoria da Perspectiva destaca, pelo menos, 2 razões pelas quais as pessoas agem irracionalmente:
A primeira razão é que o ser humano considera intuitivamente o ponto de referência.
O fato de começar com mil ou dois mil dólares afeta o modo como as escolhas são feitas.
Mesmo que o raciocínio seja irracional, o valor do ponto de partida é considerado acima do valor objetivo.
A segunda razão é que a mente humana é influenciada pelo princípio da sensibilidade decrescente: o valor percebido pode ser diferente a partir do valor real.
Por exemplo, a diferença subjetiva entre US$900 e US$1.000 é menor do que a diferença entre US$100 e US$200.
Ou seja, US$100 tem mais valor quando envolve uma quantia menor de dinheiro.
Enfim, as duas razões caracterizam a Teoria da Aversão à Perda.
Dois “eus”
Numa experiência, intitulada “Mão Gelada”, Daniel Kahneman investigou como a mente humana lida com a dor e com o prazer.
O experimento foi realizado em duas etapas.
Na primeira etapa as pessoas foram orientadas a colocar uma das mãos dentro de um recipiente com água gelada, que provocava dor, mas de modo suportável.
Depois de 60 segundos tiravam a mão do recipiente e recebiam uma toalha quente para se enxugar.
Na segunda etapa os participantes colocaram a outra mão dentro do recipiente com água gelada, dessa vez durante 90 segundos.
Porém, nos últimos 30 segundos o recipiente começava a receber água quente e o participante sentia uma leve diminuição da dor causada pela água gelada.
Por fim, Kahneman perguntou aos participantes qual das duas experiências gostariam de repetir: 80% deles preferem a segunda etapa.
Daniel Kahneman explica: “se tivesse-lhes perguntado, ‘você prefere uma imersão de noventa segundos ou apenas a primeira parte dela?’, certamente teriam escolhido a opção curta”.
Para Kahneman, “os participantes fizeram o que lhes ocorreu naturalmente: escolheram repetir o episódio do qual guardavam uma lembrança menos aversiva”.
A mente lembra de experiências de maneira complexa. São dois aparelhos diferentes que alimentam a memória.
Daniel Kahneman chama-os de o “eu experiencial” (experiencing self) que responde à pergunta: “Está doendo agora?”.
E, o “eu recordativo” (remembering self) que responde à pergunta: “Como foi isso, no todo?”.
Os participantes do experimento da Experiência Mão Gelada deixaram a escolha para o “eu recordativo”, preferindo repetir o teste que deixou a melhor lembrança, embora implicasse em mais sofrimento.
O “eu experiencial” dá um relato mais assertivo do que ocorre porque os sentimentos durante a experiência são mais precisos.
O “eu recordativo” é menos preciso, pois registra memórias depois que a situação foi concluída, porém é ele quem domina a sua mente.
Há duas razões pelas quais o “eu recordativo” domina o “eu experiencial”.
A primeira é gerada pela negligência da duração total do evento. Sua mente não considera todos os momentos do evento.
A segunda razão é chamada de “Regra do Pico-Fim”, que é considerar apenas o momento mais intenso do evento (o pico) e o que ocorre no final (o fim).
Daniel Kahneman explica:
“O estudo da mão gelada mostrou que não podemos confiar totalmente que nossas preferências vão refletir nossos interesses, mesmo que estejam baseadas na experiência pessoal, e mesmo que a lembrança dessa experiência tenha sido impressa nos últimos 15 minutos! Gostos e decisões são moldados pelas lembranças, e as lembranças podem estar erradas”.
A mente humana prefere que a dor seja breve e que o prazer dure. Mas por causa do Sistema 1, a memória insiste em representar o momento mais intenso do episódio (o pico) e as sensações finais (o fim).
Então, a memória negligencia à duração. Daniel Kahneman esclarece: “o eu recordativo conta histórias e faz escolhas, e nem as histórias nem as escolhas representam o tempo de forma apropriada”.
Para Kahneman, no modo narrador de histórias, um episódio é representado por alguns poucos momentos críticos, especialmente o início, o pico e o fim. A duração é negligenciada”.
O “eu recordativo” é uma construção do Sistema 2. Os traços distintivos do modo como ele avalia episódios da vida são característicos da memória.
Porém, a negligência com a duração e a regra do pico-fim originam-se no Sistema 1 e, não necessariamente, correspondem aos valores do Sistema 2.
A mente prefere um período prolongado de sofrimento moderado do que um curto tempo de sofrimento intolerável.
Isso acontece muito em relacionamentos, as pessoas escolhem continuar sofrendo de forma branda do que ter um rompimento abrupto que provocará um sofrimento intenso.
Você já deve ter ouvido alguém dizer: “não faça isso, pois vai se arrepender.”
O conselho parece sábio, pois o arrependimento antecipado é o veredito do “eu recordativo” e te deixa inclinado a aceitar o julgamento como definitivo e conclusivo.
A mente humana acredita que a duração é importante, mas a memória diz que não é.
As regras que governam a avaliação do passado são guias ruins para nossa tomada de decisão, pois o tempo importa, e muito.
A crise central de sua existência é que o tempo é um recurso finito, mas o eu recordativo ignora isso.
A quarta-capa do resumo
Neste resumo você aprendeu que sua mente possui dois sistemas. O primeiro age instintivamente e requer pouco esforço, trabalha rápido, o segundo é mais deliberado e exige muita atenção, trabalha devagar.
Suas decisões e ações variam de acordo com qual dos dois sistemas está no controle no momento. Daniel Kahneman explicou que o cérebro tende a tomar atalhos para economizar energia.
Mas você não percebe isso, então fica sujeito a cometer erros porque acaba confiando nas respostas rápidas do cérebro. Porém, agora que você já sabe disso, você já pode evitar a preguiça mental e buscar as melhores decisões.
Rangel Ramos
Bacharel em Teologia (Fabapar) e em Comunicação (UTFPR). Mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Escreve sobre liderança, desenvolvimento pessoal e textos devocionais. É um dos idealizadores do ministério Uns Aos Outros.