PARA ONDE VOCÊ QUER IR?
Uma meditação sobre o caminho que Jesus nos convida a Seguir
Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo. Jesus perguntou aos Doze: “Vocês também não querem ir?”. Simão Pedro lhe respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna”.
João 6.66-68
Em “Alice no País das Maravilhas”, depois de ter caído no buraco, Alice encontra o Gato Risonho na árvore e pede ajuda. Ela diz: “o senhor pode me dizer pra onde vai essa estrada?”. O gato, então, pergunta: “Para onde você quer ir?”. Alice responde: “eu não sei, estou perdida”. Ao que o gato replica:
“Pra quem não sabe pra onde quer ir, qualquer caminho serve”
Para onde queremos ir? Essa talvez seja uma das perguntas mais difíceis que temos que responder para nós mesmos. A conversa de Alice com o Gato Risonho revela muito sobre o que é ter propósito de vida.
A crise fica ainda mais séria quando perguntamos para onde estamos levando nossa família, nossos relacionamentos, nosso trabalho? Eu já ouvi muita gente dizendo que casou pra ser feliz. Outras pessoas me dizem que casamento é pra fazer o outro feliz.
Eu não acho que seja nem uma coisa nem outra. Afinal, em ambas perspectivas, um dos dois estará no epicentro da relação. Isso, uma hora ou outra, vai causar danos, pois nós, seres humanos, somos falíveis. Para mim, casar, constituir uma família e permanecer casado é se dedicar no cumprimento de um propósito.
É para este destino que tento levar minha família. Falhando, mas insistindo diariamente. Penso que o caminho que estamos trilhando como família ora nos deixa feliz e ora nos deixa triste e, tá tudo bem, isso faz parte da vida. Contudo, esse caminho tem uma única direção… “cumprir com o propósito de Deus para nossas vidas”.
Em João, capítulo seis, logo depois da multiplicação dos pães, Jesus entrou numa sinagoga em Cafarnaum e começou a ensinar. Ele diz àqueles que o ouviam que seus antepassados tinham comido do Maná e morrido, mas que ele era o próprio pão da vida e aqueles que se alimentam de suas palavras não morrem.
As palavras de Jesus causaram um constrangimento. Estruturas religiosas estavam sendo colocadas em cheque. Os judeus cresceram aprendendo que a autoridade divina estava nos eventos extraordinários de seus antepassados. Jesus não poderia dizer que suas palavras eram mais importantes do que o Maná.
Então, as pessoas começaram a se retirar. E, saindo da sinagoga, deixaram Jesus falando sozinho. Nesse momento, Jesus olha para seus discípulos e questiona-os: vocês também querem ir?
Acho que uma das coisas mais extraordinárias em Jesus é que ele não obriga ninguém a segui-lo. É sempre um convite. A porta está sempre aberta para quem quiser entrar ou sair. Para ficar ou partir. Seguir ou abandonar.
Por outro lado, a religião cristã tem mania de impor regulamentos para quem segue a Jesus. Apesar de o próprio Jesus não colocar nenhuma norma. Inclusive, sugere que se quiserem deixá-lo falando sozinho estão livres para fazer.
Seguir Jesus é uma escolha unilateral que não depende de intermediações.
Nós temos o mau hábito de jogar para Deus a decisão de para onde devemos ir. Mas, o questionamento aqui é exatamente o contrário. A pergunta é para onde queremos ir? Para onde você quer ir?
Em outra passagem bíblica, Jesus indica que quem quiser segui-lo deve tomar sua própria cruz. Um apontamento para a responsabilidade que temos que ter com os nossos próprios propósitos. Nossas escolhas. Nosso caminho.
Mas, agora você deve estar se perguntando: “qual é o caminho de Jesus?”; “ele mesmo diz que é o caminho, a verdade e a vida”. Sim, mas talvez as perguntas certas sejam: “em qual direção Jesus vai?”; Ou: “Como saber se estou no caminho de Jesus?”. Responderei.
Jesus caminha sempre na direção da cruz. Ele se desloca de seu lugar sublime de privilégio, poder e honra para ir em direção à cruz. É para lá que ele vai. Só pra lá. Para ilustrar o que estou dizendo vou te contar um pouco sobre o contexto em que Jesus viveu, a Roma Antiga.
Toda vez que um general voltava para Roma depois de uma grande vitória em batalha ele atravessava o Arco do Triunfo com toda sua tropa. Eram recebidos com honrarias e o general desfilava em cima de uma biga, sendo ovacionado com folhas de ramos.
A cidade inteira parava para receber seus heróis. A tropa marchava até o palácio de César levando os despojos da guerra. E, no fim da procissão, no final da fila, vinham amarrados pelos pés e mãos, os derrotados Os homens e mulheres que seriam crucificados.
O apóstolo Paulo, em 1ªCo 2.1-5, afirma que quando esteve entre os coríntios não usou de eloquência ou persuasão. Mas, diz que apresentou Jesus, crucificado. Paulo conhecia a cultura romana. Sabia que um crucificado, não é ninguém.
Por isso, dentre tantas sacadas de Paulo, acredito que a mais intrigante de todas é apresentar como a crucificação de Jesus denuncia a arrogância, a prepotência e o abuso autoritário da humanidade.
A crucificação não denuncia somente a prepotência dos romanos ou dos judeus, mas de toda a humanidade. A cruz revela o caráter da natureza humana em detrimento da solidariedade divina.
Ao deixar-se crucificar, Jesus revela aos próprios homens a maldade intrínseca de seus corações. A cruz revela a verticalidade nas relações humanas. A imposição daqueles que oprimem um inocente. Que conspiram, sabotam e menosprezam o desfavorecido.
Portanto, não há outro lugar para mim e para você. Não há outra direção a qual devemos ir, senão a cruz. É para lá que Jesus vai. Pois, se ele não passar pela cruz, não haverá ressurreição.
E, ao ser ressuscitado, Jesus constrange seus algozes. A ressurreição revela que o senhor da glória é soberano, exatamente, porque é o menor. É o maior porque está no final da fila. E isso, nenhum outro deus fez.
Nenhum outro deus foi crucificado pelos seus.
E o que quer dizer ir em direção a cruz? Para mim, é ir para o final da fila. É estar com os que necessitam. Com aqueles que estão isolados da sociedade. Os derrotados. Os que são oprimidos pela maldade humana. É ali, a cruz.
Mas, a religiosidade, a religião cristã institucionalizada nem sempre nos leva a trilhar o caminho da cruz. O que mais vemos é uma postura aliada aos opressores. Aos que detém o poder.
Na Tabela abaixo demonstro as diferenças entre o caminho da Religião e o caminho da cruz. É uma tentativa de mostrar a direção daqueles que decidem trilhar o caminho da cruz em detrimento do poder.
Caminho da Religião |
Caminho da Cruz |
Relação Vertical |
Relação Horizontal |
Império Romano (Poder) |
Cristo, crucificado (Amor) |
Sabedoria Humana (sofismo) |
Resistência Pacífica |
Religiosidade (cristianismo ou outra) |
Espiritualidade Cristocêntrica |
Discursa sobre Jesus ou qualquer ícone religioso |
Testemunha e vivencia o Poder de Deus |
É conceitual. Uma ideia. |
Tem o caráter de Cristo e não humano |
Reivindicação de Poder |
Razão da nossa esperança |
Impõe autoridade. Exige adoração. |
Convida a seguir. Deixa a porta aberta |
Regras, Lei, Normas. |
Encarna Cristo na própria vida. |
Fonte: o autor.
É claro que eu precisaria de muito mais tempo para explicitar sobre cada um desses pontos. Mas, deixo a interpretação para você. Se quiser, comente logo abaixo deste post. Deixe sua opinião, sua crítica ou elogio. Com respeito e decência, obviamente, né!
Mas, agora, volto para a pergunta do Gato Risonho: para onde você quer ir? Vai com a multidão? Deixará Jesus falando sozinho? Ou vai devolver a pergunta como fizeram os discípulos:
“Para onde mais iríamos se só tu tens as palavras de vida eterna?”
AGORA É HORA DE AGIR
Hoje você aprendeu que o caminho de Jesus é em direção a cruz. É na junto aos renegados dos impérios. É para o final da fila. É para lá que o apóstolo Paulo diz que os discípulos de Jesus devem ir. É entre os oprimidos e não entre os opressores. É este o meu e o seu lugar.
Mas, quem são os renegados hoje? Quem são os derrotados? Quem são os alienados da sociedade? Quem são os leprosos de hoje? Quem são os aleijados que não podem participar da adoração? Ou seja, quem são as pessoas excluídas de nossas igrejas por causa do nosso posicionamento moralista? Os excluídos das normas preestabelecidas?
Que Jesus seja o nosso caminho. Que possamos ir em sua direção. Ainda que seja um caminho de morte do nosso próprio egoísmo. Que você escolha sempre as relações horizontais. E seja uma voz a favor daqueles que estão no fim da fila. Os esquecidos pelos poderosos. Passo a passo vou para lá. Você vem?
[…] Antes de qualquer inferência, preciso salientar que Jesus só pode fazer o que fez porque Ele mesmo é a vida. E a vida que Jesus é, e dá, é a Vida Eterna. O que à primeira vista parece assustador, pois viver para sempre parece cansativo, não? Em outro post eu comento mais sobre isso. Você pode vê-lo clicando aqui. […]
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